
Fotografia dos irmãos Lumière com o cinematógrafo – Fonte: Sessão das Três
Antes de existir o cinema – como elaboração, atividade e produção – tinha-se que inventar aparelho destinado a capturar, manter e transmitir a imagem em movimento, sem o que impraticável sua existência e manifestação.
Assim, desde Leonardo da Vinci, e após séculos de experimentos diversos, os irmãos Louis (1864-1948) e Auguste Lumière (1862-1954) conseguiram a proeza de inventar o cinematógrafo, que, mesmo sem eles, teria surgido nos anos seguintes, já que, nos Estados Unidos, Edison também atingira esse estágio, atrasado, no entanto, por seu intuito de já inventar o cinema sonoro.
O fato é que os Lumière, fazendo jus ao nome, deram à luz o cinema, oficialmente, na célebre, e hoje legendária primeira sessão cinematográfica pública paga no Grand Café, em Paris, em 28 de dezembro de 1895, cidade, à época, onde tudo acontecia.
O cinema objetivado e promovido por esses inventores destinava-se e se restringia, no entanto, apenas a aspectos práticos de captação e transmissão da imagem em movimento de sentido documentário.
Os pequenos filmes então apresentados, a exemplo de La Sortie des Usines Lumière (1894), L’Arrivée d’un Train en Gare de la Ciotat (1895) e Le Déjeuner de Bébé (1895) visaram ressaltar apenas os movimentos captados e transmitidos pelo cinematógrafo.
Contudo, por uma dessas coincidências que mudam, redirecionam e ampliam os atos e cometimentos humanos, como foi o caso, na plateia da primeira sessão, em 28 de dezembro, atraído pela novidade, estava Georges Méliès (1861-1938), diretor de teatro de variedades, que se empolgou com o invento e, a partir daí, dedicou-se a filmagens, porém, de ficção, de contar ou narrar estórias, das quais sua poderosa imaginação era farta, constando ter produzido até 1913, quando faliu, nada menos de uns 500 (quinhentos) filmes de curtíssima metragem, de dois a cinco minutos.
Nesse afazer descobriu a trucagem (os atualmente denominados efeitos especiais) a partir de veículo que interceptou e cortou filmagem externa procedida em rua ou avenida de Paris, além de inaugurar inúmeros gêneros cinematográficos, entre eles, os filmes de ficção científica, a exemplo de Le Voyage dans la Lune (1902), Le Voyage à Travers l’Impossible (1904) e Eclipse de Soleil en Pleine Lune (1907).
Além de nesses filmes, e em outros do mesmo gênero, libertar a realização fílmica do apego e da constrição à concreticidade factual na série de suas “viagens imaginárias” com Faust aux Enfers (1903), Vingt Mille Lieues Sous les Mers (1907) e À la Conquête du Pôle (1912), abrindo e indicando caminhos para que as infinitas possibilidades da imaginação humana pudessem também materializar-se no cinema como ocorria na literatura.
A poderosa mente de Méliès ainda o fez adentrar e percorrer os meandros da comédia em, entre outros filmes, Cozinheiro em Apuros (1904), O Capetinha Travesso (1905) e, também, do ilusionismo (O Chinês Ilusionista, 1904; O Baralho Animado, 1905; e A Liteira Encantada, 1907).
A partir, pois, dos Lumière e de Méliès o cinema atingiu as telas de todo o mundo, desenvolvendo-se, aprimorando-se e multiplicando-se para encantar os povos e os aproximar sob a mesma mágica imagem e suas nuanças, movimentos, sons e cores.

Guido Bilharinho por Mariana Dias/G1
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