Montezuma
GUIDO BILHARINHO
Nos inícios do século XX e pelo decorrer das décadas seguintes pontificou em Uberaba o médico e escritor goiano João Teixeira Álvares (1858-1940, pai e avô, respectivamente, dos governadores de Goiás Pedro Ludovico e Mauro Borges), cujas atividades na cidade estenderam-se de 1899 a 1940, ano em que faleceu. Dele encontra-se ligeira biografia no livro físico Personalidades Uberabenses.
Além de tudo que foi e fez na medicina e na militância religiosa, dedicou-se ao teatro, escrevendo peças, chegando a construir um nos jardins de sua residência para encená-las.
Entre elas, Montezuma, que se informa escrita em 1900, porém, não em Goiás como expresso na orelha da edição da peça realizada pelo Instituto Goiano do Livro em 2002, já que naquela época o autor residia em Uberaba.
Montezuma (que se encontra editada eletronicamente nos blogs autoresuberabenses blogspot e wordpress) constitui tragédia histórica formulada em padrões teatrais clássicos.
A história é a conquista do México por Fernando Cortez, nuançada, como sempre ocorre nas obras de gênero, por laivos ficcionais.
Contudo, por lastreada em seus lineamentos gerais em dados históricos, o autor assinalou nas indicações para encenação o que é comprovadamente real, permitindo ao leitor/espectador visão balanceada do verídico e do imaginado.
A peça é magnificamente bem escrita e atilada, equilibrada e harmoniosamente construída em célere sucessão fática, dividida entre relacionamentos pessoais e atitudes, atos e fatos de transcendência histórica, desfilando em sequência vibrante até atingir o clímax final, aguardado pelo leitor/espectador com crescente interesse.
Montezuma é, por isso e por sua expressiva virtualidade dramatúrgica e teatral, um dos mais bem escritos e estruturados dramas do teatro brasileiro.
Porém, por ter sido escrita no interior do país, permaneceu e permanece desconhecida pelos historiadores e críticos do teatro brasileiro. Aliás, como ocorrido com tantas outras obras literárias e produções artísticas em geral elaboradas em iguais condições.
Nesse caso, bastando lembrar o acontecido com a primeira peça teatral (O Colégio de Dona Abelha) escrita em Uberaba nos meados da década de 1830 por Antônio Cesário da Silva e Oliveira, inaugurando juntamente com a obra de Martins Pena no Rio de Janeiro o teatro de costumes no Brasil, bem como com o ocorrido com o primeiro romance brasileiro (e, quem sabe, mundial) a ter o futebol como tema central, O Grande Esportista, escrito e publicado em Uberaba pelo escritor (e engenheiro civil) Pascoal Toti Filho em 1922.
Se esses isolamento e omissão afetam e prejudicam as obras artísticas produzidas fora do eixo Rio-São Paulo, marginalizando-as e não as inserindo no contexto cultural geral do país, também o patrimônio cultural do Brasil resta prejudicado, falho e falto, visto que mutilado e restrito apenas ao que foi e é realizado na citada paragem, exclusivista com pretensões hegemônicas.
Guido Bilharinho é um dos mais importantes homens de letras, artes e idéias no país. Polígrafo: Poeta, ficcionista, ensaísta, memorialista, pesquisador, crítico de literatura e cinema, bibliófilo e editor. Fundou e editou ao longo de vinte anos a Revista Internacional de Poesia Dimensão, um dos mais significativos periódicos literários e artísticos das décadas de 1980 e 1990. Eminente Professor, Advogado e Intelectual público incansável, edita atualmente as revistas eletrônicas Primax (Arte e Cultura), Nexos (Estudos Regionais) e Silfo (Autores Uberabenses).
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