Poema
A cor da flor de romã, ãmor no exíguo quintal.
“Alegria geométrica” posso te saquear, Emily Dickinson?
A cor estremece o contemplador.
A flor também.
Ao longe a flor é cor. Na carruagem verde cobra serpenteia.
Serpenteia a alma da flor aderida à cor.
Ajoelhou, agora, olhou, orou — Deus
!
A Groelândia,
A rosa branca imperturbável,
agora
vê desprender-se do núcleo estável (?)
a pétala que mergulha na impermanência
e imperceptivelmente
se dissolve pelas costas.
As rápidas transformações climáticas
perturbaram...
Anteriormente, em 2019, 530 bilhões de toneladas de gelo: a rosa branca perturbada
derreteu e escorreu das geleiras
suficientemente elevando
o nível do mar em 1,5 mm
É como dizem alguns:
Iemanjá tomará o Aterro do Flamengo — a Dama do Mar.
A via
Passa, passa a tua língua
No céu da minha boca.
Passagem do êxtase mundano
Para a vida espiritual.
Bola de Nieve
Na obra “Yo soy la canción misma”
em dicção cristal e sinos claros
ou em dobres como um tambor negro
ou percussão de reis
Bola de Nieve pesca nas águas do mar piscoso
de Cuba
tesouros d’África e d’España.
Navega assim em ritmos diversos
que lhe são caros
QUE LHE SÃO assim la canción misma.
O corpo mambeiro escuta
atravessa a audição discretamente enlouquecido
no jogo de ombros no molejo dos quadris
no amálgama de ritmos latinos.
Marrocos
O cuspe do Louco é benção —
deixai que vos cuspa.
As palavras do louco
são palavras compassivas —
ouças para ouvi-las.
Vem o Louco de sua mesquita branca
que se apequena e desaparece no deserto.
A túnica pesada de pó, caminha.
A boca seca sem cansaço.
O Louco abre os braços e vislumbra o infinito.
O Louco ajoelha e se prostra e beija a terra.
E nunca mais se ergue.
Osvaldo André de Mello
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