
Sâmella Almeida
A ínfima nota do desprezo
não disfarce eu reconheço
cheira a fel sabor verniz
A ínfima nota do desprezo
eu escuto e não mereço
não engulo gosto atroz
Minúsculo inseto percevejo
agarrado na garganta
no seu timbre e tom voraz
No ritmo o ciclo ininterrupto
a risca segues o estatuto
te achas superior a nós?
um movimento de cabeça sequer
Não acene para mim, suas mãos
estão cheias de sangue
Não me dirija a boca pútrida
dela saem as larvas que estão comendo nossa carne
Não sorria para mim, seus dentes
esganiçados estúpidos fazendo gracejos
Que a morte me salte o pescoço e me ataque, ainda assim
prefiro ver-te afundando lentamente
sufocado
como àqueles que matastes
Poema doméstico
Limpar a casa, os livros
Desentortar os quadros, lavar a louça
Tirar a lama o mofo o pútrido
Cuidar das plantas
O pó da estante, o mal cheiro, o encardido
Finada a escrita, tratar do espaço
vazio
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