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Cinco poemas de Régis Gonçalves

Atualizado: 30 de dez. de 2022


Imagem

LOTUS LOBO

S/título, 1994

Litografia sobre papel - 33,5 x 29,5 cm

Foto: Lucas Galeno





A PAIXÃO SEGUNDO RG

Roxo nos altares

procissões de velas:

a do encontro

descimento da cruz

o corpo sepultado

por valquírias e matracas.


Pregadores sacros

vindos de longe

para lembrar aos ímpios

que o Cristo

morreu para nos salvar

de nós mesmos.


E a gente, ungida,

deixa mágoas e lágrimas

escorrerem

tintas do sangue

do Senhor que tudo assiste

em sossego.




ÁUREA DIAMANTINA

Chamar-se Áurea em terra de Chica

e morar na Palha.

Pedras faíscam

entre porcos, no lixo.


“Ai de ti, cidade ímpia”, o pastor

invectiva.

A lama no entanto

arrasta

bíblias, missais e as almas

mais convictas.


Exsultate justi in Domino:

aurífera, diamantífera

prolífera

mãe de cinco negrinhos




EPIGRAMA

horizontal ereto – tronco caído na floresta: a matéria podre do corpo destituída de afetos – pronta para o fogo, a foto, os insetos.




O PINCEL E A LINHA

Para Liliane


No que dizem haver delicadeza

vejo potência,

ânsia de expressão

mais funda da alma orgânica:

a cor pulsante do sangue

em viagem

no corpo líquido das plantas.

Sabedoria de sombra

e luz, a alucinação contida

jorrando como lavra em água fria.

Pincel a surpreender paisagens

onde se conjugam calma

e tempestade

de vento em velhas folhas

e a poeira do chão nos seus sentidos.

No que dizem haver delicadeza

vejo potência

& poesia.




PELÉ ESTÁ MORRENDO

Rei negro?

ídolo de ébano?

ou deus verde dos gramados


em que dançou

a exibir magia ancestral

ao ritmo dos tambores

da matriz afro-ameríndia?


O nome ecoa

binário, bilíngue, duas sílabas

de sentido global

pluralíngue.


Olhos globos

saltitantes

ex abrupto se fecham

recolhidos, enfim

os estilhaços da glória.


Esferas de couro e ouro

vencem o espaço

o equilíbrio

a geometria

para o gol da eternidade.

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