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LAMA - poemobjeto manipulável de joão diniz

Atualizado: 29 de dez. de 2022


JD lendo o poemobjeto LAMA na Casa Outono BH dez 22

Foto: Andrea Dario



introdução:

Os náufragos conhecem bem as mensagens nas garrafas que vagam flutuando em busca sabe-se lá de alguém que à distancia, há de entender o chamado. Nessa garrafa anteriormente de água potável agora está a LAMA descrita ao longo da tira que descreve as enroladas circunstâncias do presente. A leitura com a manipulação performática desse poemobjeto corresponde à retirada dessas impurezas de dentro da garrafa, ou seja, um gesto simbólico e transformador de diversas negatividades.



LAMA / poemobjeto manipulável / garrafa plástica, varetas e tira de papel/ 30x10x10cm / folha impressa 180x10cm / 33 estrofes



LAMA

joão diniz

...que essa lama seja a gota d'água barragem que não barra arrasa vida a jusante um negligente descaso

desculpa incriminante a empresa só de lucros fere a terra e o ser mais um irreversível erro

seu produto é o desterro

com a ética manobrada a seu próprio favor verdades são relativas

em promoções atrativas


seu produto industrial

uma vendável escória que devora a natureza e sua boa memória


o povo é uma vitima daquele que em teoria finge querer ajudar

eloquente demagogia

política de negócios prestígio em liquidação bons valores ocultados

ferindo todos os lados recebe uma bolada por um trabalho não feito acha-se útil à nação

mesmo fazendo nada

suborno infâmia roubo procedimento comum os de ontem foram eles

e depois haverá algum

não tolera opositor desigual interação negando sua atenção

propagandeia o rancor


para diminuir seu tédio mostrando que tem poder a arma é seu remédio

o tiro é o seu dizer

o inocente é ingênuo bondoso ultrapassado velha pátria da ganância

seu hino é desafinado

...que essa lama seja a gota d'água


muito trabalho a ser feito mas a inércia domina um resultado invisível

sucederá a propina

um alto preço é taxado por quem inventa valor pensa que fora si mesmo

tudo a mais é pior



o outro é sempre menor numa visão limitada

xinga o que desconhece a violência o envaidece

minoria diminuta diz a voz arrogante

autoritária não pratica

a generosa conduta

antes de se julgar ofende seu adversário impondo seu infortúnio

comete erro primário


trata o gesto oposto como um vil golpe baixo e ataca de todas as formas

revelando péssimo gosto

uma religião é imposta em culto intolerante e na blasfêmia sagrada

segue com deus adiante


a mulher mãe de todos é atacada em silencio doméstica dor abafada

no familiar sofrimento quer encurtar a infância trabalho como degredo furtando toda a leveza

criança sem brinquedo


em vez de fazer o novo se contenta com pouco

no plagio da imitação

disfarça grave aflição sem nada para dizer despreza toda ciência pregando o que não sabe

ensinando inconsistência


...que essa lama seja a gota d'água

na agressão cidadã cada qual tem seu medo tropeça no torto passo

do assustado amanhã

mundo de leviandade espelho é dominante pretensa conclusão

acha-se uma beldade

a gente toda lá fora

mas está vidrada a visão no vidro da digital tela

cortina da ampla janela


disputa de agressão a democrática raiva se não seu é inimigo

alvo de guerra e perigo


um avião estrangeiro explode sem ter motivo perdido míssil certeiro

abate um voo vivo


o turvo ar que respira tem hálito de motor ataca planta e pulmão

antes vital ora tumor

a oferta de espaço sempre foi desigual está cheio o pequeno

e vazio o maioral

o alimento está na mesa desperto apetite estranho falsa é sua cor

tem veneno seu sabor


não pense que só se vê

no mundo essa aflição

declarar-se é a fé

a voz faz a intenção

fala para que se entenda

chama para que se una

o protesto é oferenda

o diálogo uma fortuna

fronteira do passado querendo ser desfeita semeando a união

amizade é a colheita

...que essa lama seja a gota d'água

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