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Foto do escritorRevista Sphera

Palavra pantaneira: 16 poetas do Mato Grosso do Sul apresentados por Raquel Naveira

Atualizado: 10 de jan.



Boiada na noite, gravura digital do sul-mato-grossense Humberto Espíndola. Fonte: https://2000gravurasdigitaisdehumbertoespindola.wordpress.com/


Dossiê Poesia Sul-Mato-Grossense


SELEÇÃO, ORGANIZAÇÃO E APRESENTAÇÃO RAQUEL NAVEIRA

IMAGENS GRAVURAS DIGITAIS DE HUMBERTO ESPÍNDOLA

FOTOS DIVULGAÇÃO/INTERNET

 


O lugar


Não há dúvidas de que os olhos estão sobre o Mato Grosso do Sul. Um Estado da região Centro-Oeste, de planaltos, serras escarpadas, rios importantes, como o Paraguai e o Aquidauana. Rico em soja e milho, na pecuária e na mineração. Desmembrado do antigo Mato Grosso, em 1977, tem ambientes naturais potentes, como o Aquífero Guarani e o Pantanal.

A cultura inclui a linguagem, as crenças, os costumes, o folclore, a arte, a culinária e o modo de vida do povo sul-mato-grossense. Uma mistura da antiga presença dos povos indígenas com as várias contribuições das migrações ocorridas nesse território, como a japonesa, a árabe, a portuguesa e a espanhola.

Passar por aqui é provar da chipa, do sobá, do arroz carreteiro. É tomar tereré, mate gelado e licor de pequi. É admirar a exuberância da fauna e da flora pantaneiras, com as onças, jacarés e os voos dos tuiuiús sobre os camalotes e guavirais. Tudo ao som de guarânias, rasqueados e músicas sertanejas.

Nesse vasto leque da cultura, encontra-se a arte da palavra, a poesia, essa milenar atividade humana. A poesia que é uma forma de ver os objetos como se nunca os tivéssemos visto antes, que é conhecimento existencial, intuitivo, autêntico, aspiração de todo ser humano.


As letras


A Academia Sul-Mato-Grossense de Letras (ASL) é uma organização artística com sede em Campo Grande, capital do Estado. Foi fundada no dia 30 de outubro de 1971 pelo advogado e contista Ulysses Serra com o nome de “Academia de Letras e História de Campo Grande”. Na noite solene de 13 de outubro de 1972, data de sua instalação, estiveram presentes convidados de honra como Ivan Lins, da Academia Brasileira de Letras, e Hernâni Donato, da Academia Paulista de Letras.

O poeta Manoel de Barros (1916-2014), torturado artesão da palavra, aquele que nos ensinou que “quando as aves falam com as pedras e as rãs com as águas é de poesia que estão falando”, foi e continua sendo o membro da cadeira número um da nossa Academia. Uma inspiração para todos.

Nos dias 19 e 20 de outubro de 2023, a Academia Sul-Mato-Grossense de Letras, sob a batuta de seu presidente, Henrique Alberto de Medeiros Filho, organizou e sediou o Congresso Brasileiro das Academias Estaduais de Letras (Brasil Letras 2023), contando com as presenças dos presidentes das Academias de vários Estados e dos acadêmicos Antônio Cícero e Ricardo Cavaliere, da Academia Brasileira de Letras.

A abertura aconteceu no auditório do Bioparque Pantanal, que abriga o maior aquário de água doce do mundo dentro do Parque das Nações Indígenas, e seguiu com reuniões e debates na Academia Sul-Mato-Grossense de Letras. 

No dia 20 de outubro, às 14h, participamos da mesa intitulada “Tecnologia e Inteligência Artificial: saltos e quedas da Literatura” com o Professor Ricardo Cavaliere. Esse Congresso foi marcante e reverberou por todo país, fixando metas para o crescimento dessas instituições.

Apresento aqui um recorte, um painel de poetas do Mato Grosso do Sul, formado por membros dos quadros da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras, à qual pertenço, representativos de uma geração.


 

Representantes de Academias Estaduais de Letras no Congresso das Academias Estaduais de Letras no Bioparque em Campo Grande (MS)

 

Américo Calheiros



BOI BERRANTE

 

Do boi tudo se aproveita

menos o berro.

Mentira!

O berrante traz o berro aproveitado.


BOI EM SILÊNCIO


O silêncio do boi

Muge no homem pantaneiro.

 

HISTÓRIAS NAS CALÇADAS

 

Noite vestida de lua

beijava ingênuas calçadas.

Em ritual não combinado

família reunida fazia sonhos.

Noite inspirava a província,

gente simples sorria no improviso

dos causos de cada imaginação.

Criança se sustentava no suspense,

atenta aos acordes dos enredos.

Mais velhos teatravam estórias,

o tempo parava na exclamação da mãe,

a hora corria na interjeição do pai.

Tudo era velho com cara nova,

não importava se era só repetição

de estórias contadas no sempre,

cada uma delas tinha sabor de prazer.

Boas eram as de assombração,

o frio escondido na barriga,

o sono, um desafio ao medo.

Quão longe foram as mentes

hoje presas aos controles digitais.

 


Ana Maria Bernardelli



DOS LABIRINTOS

 

o arame farpado dividia

a planície

uma quase-prisão

uma quase-euforia

a fenda da montanha

esqueceu o caminho

a fruta ficou no pé

as pegadas, sepultas na poeira

 

talvez quando um dia

as letras significarem

e a ferrugem

corroer a corrente

a vereda se abra

...

ou galope nas asas

da resistência.

 

 

DAS UTOPIAS

 

não mais o padecimento

nem masmorras, nem calabouços

a tristeza da ignorância

não mais

exílios, cisão, fronteiras

discórdia, fração!

não mais

o partível tronou-se uno

o tirano, benigno

a adversidade, prostrada

a destruição, vencida

o vento trouxe a notícia:

o mundo voltou às origens.

 

 

Elizabeth Fonseca



 

No passado tempo andei

passado tempo amei

Há muito tempo passei

Passei tempo sonhei

Século de tempo chorei

Poeira do passado baixou

Rastro passado marcou

Foto do passado desbotou

Resto passado desfolhou

Do tempo passado nada ficou.

 

O instante da flor

 

Os olhos não colhem

o romper da corola,

o desembrulhar da flor.

É hipnose do olhar

na contemplação da rosa

que viceja em olor.

 

A flor sabe o seu destino

e floresce para o mundo

em vibrações de amor.

Mesmo que dure um dia,

ou que seja por segundos,

sua imagem em nossa retina

é o matiz de o globo olhar

que a alma toda ilumina.

Quando o dia termina,

pousa indelével afago

como fadas no lago

acalmando nossas vidas.

 

Paz... é esse entrar em flor,

é vestir-se para a festa

em róseo encanto e glamour

ao leve bailar do vento...

Mágico instante da flor!

 

 

Emmanuel Marinho



CENÁRIO


Um dia seco, um dia seco e frio que virou noite, o sol gritando de sangue na manhã e na tarde, que também se fez cinzenta – tudo escuro no país -; botas engraxadas no olhar duro das armas e do ódio, o silêncio assustador da caserna e dos uniformes, os lobos fugindo como podem, fumaça no ar pesado de partículas estranhas, resto do que foi vida, verde e belo, pequenos seres sendo queimados na grande fogueira, entre milhares deles, minhocas, formigas, sapos, pássaros, livros e pensamentos, vaga-lumes fugindo assustados com tudo, a dor das águas, das abelhas e das bibliotecas, a flor enforcada pelo fogo, a lua vestida de um laranja triste, o pedaço de uma asa de borboleta perdida entre as cinzas, único resquício das cores, ninguém procurando pelas andorinhas desaparecidas, ninguém, o grito na ponte com as mãos quase tocando a face, a mata em seu último suspiro, o vento cantando a música da loucura, arsenais do medo entre as nuvens, a mentira falada como se fosse viva, a árvore de olhar tão triste na janela - como se fosse uma moça virgem e morta -  paisagem sem vida - o ouro, o vinagre, o ogro, o agro e o agora.

 

CENÁRIO II

 

a solidão de um poste sem lâmpadas

dói quando a noite se pratica.

 

 

CENÁRIO III

 

depois de molhar

planta por planta do jardim

a dona delas todas

dava de beber a um poste

perplexo na calçada

como um homem sem luz.

 

VERBOS PARA UM ÚLTIMO POSTE

 

ouvi de ver que houve um

que de tanta luz

virou árvore.

 

 

Fábio do Vale

 

 

ESCOLARIZAÇÃO

 

O domador de palavras não existe.

A escola desaparelha a imbecilidade.

A escola emprestou do catavento

a possibilidade de catar a alienação.

No terreno escolar a vida (re)nasce.

Em matéria de poesia estudar

significa desamarrar os olhos.

Em matéria de poesia aprender

significa chegar depois da decisão.

Sair do casulo está para o mesmo

que finalizar a nossa vida escolar.

A borboleta visa o esperançar,

Aqueles que preferem o casulo

Estão inabilitados para estes versos.


DICIONÁRIO

 

O significado das coisas tem validade.

Para o ervateiro o pôr-do-sol é abrigo.

Para o pantaneiro, água é cenário-vivo.

Para o ribeirinho, peixe é possibilidade.

Para escrever estes versos, sobriedade.

O significado da poesia é desregrado.

Fio da rede elétrica é poleiro de pardal.

Rabo de pavão é parabólica d’arco-íris.

Estação no aumentativo se chama verão.

Rio tem jeito de verbo e lugar molhado.

A poesia desmantelou a razão disposta.

A poesia mata a sede com a memória.

A poesia desviou a atenção inexistente.

Em matéria de poesia verso é profecia.

 

 


Geraldo Ramon Pereira 



VOO EM DESASAS AZUIS

 

(Para o poeta Manoel de Barros in memoriam)

 

Com pena de cipó, tinta de amora,

– O mistério do chão como papel –

Rabisco este soneto que ignora

Sábias ignoranças de um Manoel

 

De Barros... Voo-vivo, num vergel,

O ser-pássaro-azul não foi embora:

Cá ficou, na poesia de bom mel,

Qual caramujo a ejacular memória!

 

– Ficou teu riso no rumor dos bichos,

Tua voz nos silêncios dos corixos,

A imagem no ruflar das revoadas...

 

Enfim, ficaste vivo entre imortais,

Porque lograste, em versos sem iguais,

Essências do que é bom do inútil e nadas.

 

NOSSA VIDA

 

... Era um ninho e eu fui a avezinha

Que esperava da mãe o alimento...

E dos teus lábios o alimento vinha,

Dos meus lábios ganhavas meu alento.

 

Vivendo a eternidade dos momentos,

Ansiosamente fui teu, foste minha...

Tinhas dos loucos êxtases que eu tinha,

Tinhas minha alegria ou sofrimento.

 

Gozando esse amor calmo, na ansiedade,

Nossa vida ascendia em voos lentos,

Era o tempo eternal felicidade...

 

Mas eis que a eternidade dos momentos

Nos faz do agora a triste eternidade

Do amor perpetuado em sofrimento.

 

 

 

Guimarães Rocha

 

O SEGREDO DAS ÁGUAS

 

Donde vêm as águas?

Do laboratório divino

O fluído é condensado em água

Que cai

Sobe

Brota

Despeja

Corre

Alimenta

Multiplica

Substâncias

 

O dom das águas é fluir

No nascedouro

E mesmo depois de represada

Em outra fase não fugirá

À força do eterno fluir

 

Até o charco ainda que

Aparentemente imóvel

Elabora em segredo

No calor das essências

A vida luxuriante que depois se expõe

Miraculosamente

 

No pantanal o mistério

Das águas é sublime ainda mais

Suas temperaturas cambiantes

Acalentam    variedades

De animais

Num tanto que desafia

A imponência da matemática

 

A água é fiel veículo

Não a envenene

Nem mesmo por pensamento

Para que tal ato não se converta

Em consequências desastrosas

Acionando outras águas

Que verterão com amargura

Dos olhos do teu filho.

 


Henrique de Medeiros


 

NÃO CABE

 

tento colocar

dentro de mim

o mundo

minha imaginação

onde tudo cabe

me engana fingindo

que isso é possível

sendo assim

tempo que me passa

talvez não seja

a hora que passo

enquanto mensuro

medidas

pesos

daquilo que

nunca vai ser

eu

 

BOA VONTADE

 

 um dia pensei

que um dia quem sabe

poderia mudar o mundo

               changer le monde

               to change the world

mas aprendi que

nunca vou mudar o mundo

mesmo

que você acredite que junto

                               nós podemos

mas quem sabe

                          pelo menos

posso tentar mudar

                          ao menos

uma pessoa

talvez duas ou três

com certa dose de exagero

e muita boa vontade

delas



Humberto Espíndola



MICROTEXTO

 

Herança das castas indianas...

Somos puros de origem,

 

Nascemos para procriar

não para alimentar

 

Pastamos rosas

Como se fora capim...

 

MICROTEXTO

 

No sal do cocho,

só o ferro em brasa,

sem alforria alguma

dos seus senhores...

 


Ileides Muller

 


GIRASSOL

 

Dentre as flores,

encanta-me o girassol

rosto alegre

voltado para o sol

não se rende aos abrolhos que o seduz.

Junto a espinhos vivemos neste mundo

ansiando o Sol Maior,

Amor profundo.

Humanos girassóis

buscando a Luz.

 

RIMA

 

Amar pode rimar com momento

chorar, com acontecimento

cantar, com brincadeira

despedida, com beijo

caminho, com solidão

chegada, com bem-te-vi.

Viagem pode rimar com passagem,

pedra, fotografia, abraço...

Tanto faz.

Na poesia moderna

a rima usa disfarce.

 


Lenilde Ramos


 

a arte

imita a parte

em que o ser

atua por inteiro

com ou sem

roteiro

 

*

 

falho

mergulho

debulho

e olho

 

temperamento

precisa de paz

 



Marcos Estevão



ESCOLHAS

 

A dúvida é constante

Habita minhas leituras da noite

Faz parte do meu café da manhã

Vai comigo ao parque

Põe-se sobre meus pés

Assim não a piso

Com os meus passos

Que seguem incertos

Passos cegos, à deriva

Devorados pelas escolhas

Passos descalços

Estacionados nas bifurcações

Passos e terra

Vidas e mortes

Uma história interminada

Protagonizada por nós

 

O SER DE HOJE

 

Notícias dadas em aquarela

Surgem em avenidas

Vestes disformes

Cruzam os tempos

Na faixa de pedestres

Palavras ecoam dos relógio

É preciso manter algum diálogo

Para manter vivo o velho mundo

Vozes que caminham

Ao encontro dos dedos

Línguas que descansam

Dentro da boca

Somos apenas

Seres solitários

Imersos na multidão.

 


Raquel Naveira


 

ALMA E LAMA

 

Quando foi que a lama se transformou em alma?

Era tudo brejo,

Terra agitada,

Fermentada

E plástica,

Solo palpitando de bolhas,

De larvas,

De insetos,

Rabinhos com olhos de feto

E vieram o sopro,

O ar nos pulmões,

A vida pelo sangue,

Pelo fígado,

Pela medula e ossos,

Pulsando quente

Como chama.

 

Quando foi que a alma se transformou em lama?

Era tudo espírito,

Energia,

Fio de prata,

Palavras e gestos,

Imagens que brotavam

Do intelecto,

De uma fonte de amor

Luminosa e intacta

E vieram os desejos,

As paixões,

As trevas,

A ausência de sombra

E a alma rolou no lodo,

Vagando

Como um fantasma.

 

Corpo nu,

Contaminado,

Enterrado na lama,

Tumor que lateja

Coberto de lesmas,

Lêndeas

E gosmas;

De repente, as águas da chuva

Lavam o corpo

E da boca

Sai uma borboleta.

 

Lama e alma,

Apenas uma asa,

Uma letra.

 

PERFUMISTA

 

Emocionei-me quando ele disse:

“_ De todos os perfumes,

     Prefiro o seu.”

 

Eu me perfumei

Em segredo,

Com intensidade,

Para esse momento;

Usei essências florais,

Rosas, jasmins,

Notas de baunilha,

O perfume penetrou na minha pele,

No meu coração,

Fixou-se no fundo,

Deixando no vento

O  rastro da recordação.

 

“_ Também amo seu cheiro”, eu disse,

De tabaco seco,

Noz-moscada e canela,

De madeiras vindas de distantes ilhas

Para o sonho dessa hora,

Toda azul,

Desse baile de aromas,

No castelo de Versalhes

Ou num jardim

À beira do Nilo.

 

Nunca houve ciúme,

De todos os perfumes

Espalhados pelos ares,

Trazidos a lume,

Ele prefere o meu.

 


Rubenio Marcelo 



ACALANTO

 

É sempre

no contra-argumento da solidão

que vem a minha estrela...

 

a mesma

[a fiel estrela]

com o mesmo incenso

quase um contrassenso

no meu ermo intenso...

 

e ela me diz em confidência

que a noite

é menor do que os seus mistérios

e que a claridade

que enleia os gorjeios da manhã

é maior do que

a insônia dos meus caprichos

 

firmo o olhar...

 

e no firmamento

dissolvo-me

em nova canção de ninar

 

e novamente

canto com a minha estrela...

 

 

VIAS DO INFINITO SER

 

sem a ordem do dia

do sobrenatural

não haveria

a natural ordem

das coisas da noite...

 

da noite para o dia

silentes instantes

tornam-se eternos...

 

do dia para a noite

palavras saltam muralhas

e viram estrelas...

 

instantes e estrelas

conhecem os refúgios do tempo

mas desentendem

a quietude das pedras

e a saga dos pássaros

translúcidos

do sétimo céu...

 

por via das dúvidas

há vias de certezas

que nos desafiam a percorrer

in/conscientemente

e em perfeita claridade

a via láctea e o infinito

do nosso ser...

 


Sérgio Fernandes Martins


 

TEU BANHO

 

Seu banho é o mistério

Que mais quero desvendar

Paro, penso, fico sério

E me ponho a imaginar.

Como deve ser tão lindo

Você entrar, fechar a porta

E depois, já se despindo,

Do meu pensamento aborta.

Mais tarde a vejo

Toda perdida na espuma

Não sinto pudor ou pejo

Sinto uma leve bruma

Meus olhos enuviados

Com sua beleza infinita

Com seios rosados

Nos quais a água saltita

Com seu colo de veludo

Coberto de pelos frágeis

Que divino conteúdo

Na carícia das mãos ágeis.


AVENTURA

 

buscar aventuras

é preciso;

é preciso

dar tempero à vida.

 

fazer loucuras

é preciso;

é preciso

dar sentido à vida.

 

necessário

é combater sistemas,

principalmente os que são contra a vida.

 

indispensável mesmo

é cometer poemas,

pois estes

são vitais à vida.

 


Sylvia Cesco 


 

A UM POETA

 

Aço-sol instransponível

é a tua poesia que escorre

-açucena peregrina-

assim que a manhã matuta 

mastiga e matina   a fina

flor do orvalho

que restou.

 

Maceras os versos

tão sem coerência

 que chegam a desfalecer

sem sentido 

sobre a relva improvisada e reticente

 

que algum sabiá displicente

 

versejou.

 

Li-os à luz da lua.

E amanhecida de ternuras inda estou.

 


OLARIA

 

A palavra

afiada

entre os dentes

escorre úmida de sangue

pela ampulheta do tempo.

O poeta-criança

fica ali, brincando

de esconde-esconde, 

ora embaixo, ora em cima

todo dia, todo dia.

Da minha janela observo

aquela brincadeira

sem eira nem beira,

de galopar nas ruínas

 

espantando   passarinhos:

 

-sabe bem que sua   poesia

é uma encantada olaria

moldando insanos versinhos.

 

 


 

 

Boi-onça, gravura digital de Humberto Espíndola. Fonte: https://2000gravurasdigitaisdehumbertoespindola.wordpress.com

 

 

 


SOBRE AUTORAS E AUTORES



Américo Calheiros é professor, escritor e teatrólogo, entrou no mundo da escrita na década de oitenta. Tem onze livros publicados em vários gêneros discursivos.



Ana Maria Carneiro Bernardelli nasceu em São Paulo e reside em Campo Grande (MS). Graduada em Letras, é professora especialista em Literatura Brasileira e Literatura Portuguesa. Musicista certificada pelo Centro de Artes do Rio de Janeiro. Formada em Língua e Literatura Francesas pela Université de Nancy.  Poeta e ensaista atua na área de crítica literária.





Elizabeth Fonseca nasceu em Campo Grande, é poeta, cronista e declamadora, formada em Ciências Contábeis (UCDB) e Especializada em Literatura e Língua Portuguesa Contemporânea Lato Senso também pela UCDB. Diretora do “Curso Arte de Dizer Castro Alves”. Tem vários livros publicados, premiações e participação em Antologias e Revistas.





Emmanuel Marinho nasceu em Dourados (MS). Possui formação acadêmica em Psicologia pela UNIP e pós-graduação em Artes Cênicas pela UFRJ. Poeta, Ator e educador. Compõe poemas, edita-os em livros e os interpreta no teatro e na música. Publicou 10 livros e 2 Cds. Recebeu vários prêmios por sua defesa intransigente dos direitos humanos.




Fábio do Vale nasceu em Campo Grande, onde reside. Graduado em Letras e Pedagogia. Doutor e Pós-doutor em Estudos de Linguagens, escritor, palestrante, poeta, pesquisador, coordenador de pesquisa e iniciação científica da Faculdade Insted e vice-presidente do CLAEC (Centro Latino-Americano de Estudos em Cultura).



 

Geraldo Ramon Pereira é cirurgião dentista, com especialização em Fisiologia e Biofísica na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. Foi professor de Fisiologia Médica na UFMS. Poeta, violeiro, compositor de inúmeras músicas regionais. Coordenador da página Suplemento Cultural do Jornal Correio do Estado.

 



Antonio Alves Guimarães, Guimarães Rocha, é militar, professor, formado em Letras, ativista cultural, fundador da União Brasileira de Escritores UBE/MS, a qual presidiu e ocupou cargos em várias gestões.

 



Henrique Alberto de Medeiros Filho é poeta e escritor nascido em Corumbá (MS). Após sua infância, adolescência, estudos universitários e atividades profissionais como jornalista e publicitário em São Paulo e Rio de Janeiro, tornou-se partícipe da cena artística e cultural principalmente do Brasil Central. Graduado em Comunicação Social pela Universidade Gama Filho/RJ, exerce atividades criativas, multimídia, editoriais e empresariais. É autor de livros de poemas, contos, crônicas, outros escritos e biografia; faz parte, ainda, de diversas antologias e coletâneas. É o atual presidente da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras.




Humberto Espindola, um dos maiores nomes da arte contemporânea no país, nasceu em Campo Grande em 1943. Participou das bienais de São Paulo 1969/71, Veneza 2972, Medellín, Colômbia 1972, México 1978, Havana, Cuba 1984, Cuenca, Equador 1989. Cofundador e diretor do MACP/UFMT, 1973/1982. Primeiro Secretário de Cultura de MS, 1991/92. Dirigiu o Marco de MS, 2002/05. Doutor Honoris Causa pela UFMS, UCDB, 2019 e UFMT, 2023.





Ileides Muller nasceu em Cachoeira do Sul (RS) e reside em Campo Grande desde 1980. É pedagoga com especialização em Metodologia do Ensino e advogada com especialização em Direito Público. Declamadora, poeta, contista e cronista, publicou quinze livros (dois em parceria), sendo nove de poesia, dois biográficos, um de contos/crônicas e três infantis. Recebeu diversos prêmios em concursos nacionais de poesia.

 



Lenilde Ramos é uma jornalista que levou a escrita para o campo da literatura não ficcional. Sua prosa tem compromisso com o registro de fatos e personagens reais e sua poesia está ligada ao minimalismo. A música e a produção cultural são elementos fortes que ampliam a vivência artística dessa escritora.




Marcos Estevão dos Santos Moura é médico psiquiatra e escritor. Autor de sete livros (cinco literários e dois técnicos na área médica).

 


 


Raquel Naveira nasceu em Campo Grande no dia 23 de setembro de 1957. Formou-se em Direito e Letras pela Universidade Católica Dom Bosco (UCDB). Mestre em Comunicação e Letras pela Universidade Presbiteriana Mackenzie de São Paulo. Deu aulas de Literaturas Brasileira, Latina e Portuguesa na Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), onde se aposentou. Residiu no Rio de Janeiro e em São Paulo, onde deu aulas na Universidade Santa Úrsula (RJ) e na Faculdade Anchieta (SP). Publicou mais de trinta livros de poesia, ensaios, crônicas, romance e infantojuvenis. Integra o seleto grupo de autores da Coleção Infame Ruído com a coletânea Ponto de fuga & outros poemas (Inmensa Editorial, 2024)




Rubenio Marcelo é poeta escritor, compositor, ensaísta, revisor e advogado. Publicou treze livros e três CD’s. Foi Conselheiro Estadual de Cultura de Mato Grosso do Sul. Reside em Campo Grande.



Sérgio Fernandes Martins nasceu em Dourados, é escritor, poeta, magistrado e atualmente preside o Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul. Foi professor universitário, colunista do “Jornal da Cidade”. Tem livros na área jurídica, entre os quais destaca-se Tributos Municipais na Federação Brasileira. Publicou inúmeros artigos em revistas especializadas, bem como crônicas, contos e poemas.



Sylvia Cesco nasceu em Campo Grande. Possui formação em Letras, Especialização em Língua e Literatura Portuguesa, Especialização em Roteiro para Rádio e TV. Publicou vários livros de poesia, crônicas, contos e infantojuvenis. Foi presidente da União Brasileira de Escritores-UBE/MS. Criou a Revista Literária “Piúna”. Cronista do Jornal “Correio do Estado” e atualmente escreve para a Coluna Literária do jornal “O Estado de MS” e para o Blog Cultural de Alex Fraga.


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