Em 2024, precisamente no dia 12 de junho, completaram-se vinte anos da morte – melhor dizer transcendência, claro – do poeta Adão Ventura, que, por motivos óbvios, é referência fundamental para Sphera Habitações do Encantado, que tem como horizonte cognitivo a obra-vida de Cruz e Souza.
Não houve festanças oficiais comemorativas, selo dos Correios, tampouco “doodles” no Google. Imagina! – dá pra inferir o cinismo à paulistana –, um poeta, e ainda por cima preto. A intempérie passou em brancas nuvens no país do desinteresse interessado pelo passado, pelas letras, pela vida dos infames.
Mas, como sabemos, se há poder, há resistência; se há poder de silenciamento, há resistência gritante. E por isso celebramos o poeta na primeira edição de Terceira Feira: encontro de literaturas das margens do mundo, de 11 a 15 de setembro em Diamantina, elegendo-o como homenageado permanente do “Colóquio Vozes não-hegemônicas: encontro de poetas das margens do mundo”.
Iniciamos ali um processo de valorização da obra e da vida de Adão Ventura a partir do seu território, o Vale do Jequitinhonha, onde nasceu na cidade de Santo Antônio do Itambé em 1939.
Sua vida adulta transcorreu em grande parte em Belo Horizonte, onde se formou em Direito na UFMG no ano de 1971. Tornou-se já naquela década a principal referência da poesia, ao lado de Sebastião Nunes, na chamada “Geração Suplemento”, autores novos divulgados pelo Suplemento Literário do jornal impresso “Minas Gerais”, Diário Oficial de MG.
Estreou em 1970 com Abrir-se um abutre ou mesmo depois de deduzir dele o azul e prosseguiu em 1976 com As musculaturas do arco do triunfo, livros estranhos, a meio caminho entre poesia e prosa, com forte teor surrealista.
Em 1980, depois de experiência que teve nos Estados Unidos como escritor e professor visitante de literatura brasileira, publica A cor da pele, um dos mais importantes títulos da produção literária de autoria negra no país. Nesse mesmo ano também publica Poemas do Vale, escritos resultantes de viagem que fez ao seu Jequitinhonha.
Nos anos seguintes, já poeta assumidamente negro – difícil processo que, a exemplo de outros autores, sua obra testemunha -, publica o infanto-juvenil Pó de mico Macaco de circo, em 1985, Texturaafro, em 1992, e, finalmente, Litanias de cão, em 2002.
A poesia de Adão Ventura está presente em inúmeras antologias e periódicos no Brasil e no exterior. Publicações que, somadas ao número cada vez mais crescente de trabalhos acadêmicos sobre sua obra, são suficientes para atestar o reconhecimento da grandeza do seu gesto. (Anelito de Oliveira)
Adão Ventura, um poeta venturoso na aventura de ser um poeta de porte!