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Três poemas sobre amor e morte de Ricardo Vieira Lima

Atualizado: 1 de jan.


 



Claude Duvauchelle (n. 1953), artista francês contemporâneo, Portrait imaginaire (Cut-up IX), Técnica mista, original 41/33, disponível para aquisição em www.artmajeur.com

 

Meu pai

                            

   Meu pai gostava de recitar, para mim, os versos de Castro Alves.  

   Também ouvia música comigo, da ópera ao samba,

   me embalando no colo até que eu adormecesse.

   Me apresentou a literatura, o cinema, as artes, o teatro e a política.

   Me emprestava livros sobre a história recente do país

   e depois os discutia comigo.

   Certa vez, viajamos até o interior de Minas,

   onde fui receber dois prêmios literários e um cheque  

   – que mais tarde saberíamos estar sem fundos –

   das mãos do prefeito da cidade.

   No entanto, meu pai nunca dizia que me amava.

                              Eu também não.

                              Mas digo-o agora. Neste poema.                              

 

 

 

 

 

  A morte

 

   Na noite passada,

   sonhei com meu funeral.

     

   Minha mulher chorava

   à beira do esquife.

  

   Mas não havia corpo,

   somente lágrimas.

  

   Acordei com a notícia

   da morte de minha tia.

 

 

 

13.05.2012

 

Hoje é o dia.

Hoje é o primeiro dia.

Hoje é o primeiro dia das mães.

Hoje é o primeiro dia das mães do resto.

Hoje é o primeiro dia das mães do resto da minha vida.

Primeiro dia das mães do resto da minha vida

em que não tenho mais mãe.

Hoje é o dia.

Apenas o primeiro dia.

 




 

Ricardo Vieira Lima é doutor em Literatura Brasileira pela UFRJ, mestre em

Literatura Brasileira pela UERJ, crítico literário, ensaísta, jornalista, poeta, editor-

assistente da revista Fórum de Literatura Brasileira Contemporânea (UFRJ) e

coordenador, juntamente com o poeta W. B. Lemos, do Sarau do Museu, evento cultural

virtual realizado mensalmente pelo Museu da Justiça (TJRJ). Membro titular do PEN

Clube do Brasil, organizou e prefaciou os livros Anos 80 (antologia e ensaio), da

coleção Roteiro da Poesia Brasileira (São Paulo: Global, 2010), e Poesia completa, de

Ivan Junqueira (Lisboa: Glaciar; Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, 2019).

Desde a década de 1990, vem publicando resenhas, ensaios e entrevistas em diversos

jornais e revistas brasileiros e estrangeiros, a exemplo de O Globo, Jornal do Brasil,

Colóquio Letras, Rascunho, Poesia Sempre e Revista Brasileira. Seus poemas têm sido

traduzidos e divulgados em países como Estados Unidos e Itália. Seu livro Aríete

poemas escolhidos (Circuito, 2021) ganhou os Prêmios Ivan Junqueira, da Academia

Carioca de Letras, e Jorge Fernandes, da União Brasileira de Escritores, seção RJ.

 

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