O lugar das confluências das margens
ANELITO DE OLIVEIRA
De 11 a 15 de setembro de 2024, aconteceu em Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, a edição inaugural do projeto Terceira Feira: encontro de literaturas das margens do mundo. A segunda edição acontecerá de 10 a 14 de setembro de 2025 também lá, assim como as demais edições do projeto que teve seu impulso decisivo aqui mesmo em Sphera Habitações do Encantado.
Aqui começamos a cultivar uma política da solidariedade no ano de 2021, em plena pandemia, quando fundamos este periódico. O dado fundamental dessas política é promover, em sintonia fina com os valores estéticos e éticos que enformam a obra de Cruz e Souza, a agregação em contraponto aos segregacionismos imperantes.
Em 2022, avançamos, no bojo das relações ensejadas por este território digital, na construção de um item estruturante do projeto: a Coleção Infame Ruído, aglomeração de autoras e autores que desenvolvem seu trabalho à margem dos grandes centros culturais hegemônicos na América Latina, África e Ásia.
A Coleção nos impôs, em primeiro lugar, o desejo de realizar duas ações: um Colóquio de Poetas das Margens do Mundo e a doação de livros a escolas públicas estaduais das cidades que ostentam menores taxas de IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) em Minas Gerais. Objetivos plenamente atingidos graças à participação solidária de pessoas, artistas, professoras e professores, intelectuais e instituições municipais, regionais e nacionais.
Todo esse processo surpreendentemente inédito foi liderado pelo Instituto de Desenvolvimento Humano Daghobé, que concebeu Terceira Feira já em 2008 como um dos itens do eixo cultural do Megaprojeto Sociocultural Daghobé, que visa dinamizar as cadeias produtivas da educação, da cultura e do desenvolvimento suistentável no sertão.
A escolha de Diamantina como território de referência para a promoção das confluências necessárias, das questões prementes dos povos do sul global, é parte do êxito do projeto-processo Terceira Feira.
Os desenhos e imagens da artista Iara Abreu que estampamos neste número de Sphera é uma justa celebração de Diamantina, patrimônio cultural da humanidade, imagem precisa da grandeza do povo jequitinhonhense. Trata-se de trabalhos produzidos ao longo de vários anos durante estadas no aconchegante Arraial do Tijuco, sensíveis leituras de um lugar encantador.
Iara nasceu em Belo Horizonte e estudou artes na antiga FUMA (Fundação Mineira de Arte). “Pesquisa e trabalha diversas linguagens com técnicas, materiais e suportes diversos, que lhe propiciem expressar uma ideia, um pensamento”, em suas palavras.
A artista esteve à frente de diversos projetos artísticos na capital mineira como autora ou curadora, como “Aspectos Urbanos”, “Certos Movimentos Incertos”, “Semana de Arte Moderna” e “Antropofagia”. Realizou exposições individuais e participou de coletivas em BH e várias cidades mineiras. Seu trabalho também já esteve em exposição na Argentina e na Áustria.
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