O nosso lugar
Um rio é apenas um rio
mas nenhum pintor ou poeta
será capaz de pô-lo por inteiro
numa tela ou no livro de mil páginas.
O mar é mais. Uma só onda,
porém, frustrará
quem dela tentar se apossar.
O córrego nos fundos da infância,
tão avesso à grandeza,
perderá nas cores ou palavras
o que dia e noite
pra longe de tudo leva.
Por que então, poeta, te dás
ao martírio de buscar
até a exaustão das forças
o que malmente de raspão
te toca ou logras alcançar?
– Não importa!, diz o tempo.
Até de folhas mortas se faz
o sonho. O mar que nele transborda
é onde sempre cabemos.
Metáfora do céu
Também no céu
os rios são móveis.
Avançam. Recuam.
Baldeiam-se à esquerda,
à direita.
Assim como o amor
e o ódio, os rios
são móveis.
Não há limites
no céu, a não ser
o véu do mistério.
Metáfora inúmera,
encobre os lábios
com a lábia fortuita.
O sonho
Antílopes, de onde vêm
quando surgem no sonho?
Acolho-os por não saber
que sonho. Mas de mim
se vão, levando
um pouco da luz
que permeia, entre nós,
o mistério da vida.
Criaturas de sonho, por que
me fazem saber
que em mim estiveram?
Ao longe, escuto-os
em quase inaudível trote selvagem.
Escuto-os dentro de mim
qual leito de um rio.
Alcides Buss por © Daniel Queiroz
Comments