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Dez poemas de Fernando Salomon Bezerra

Atualizado: 4 de nov. de 2021

- estou naturalmente isso, e você?

- eu também estou isso

- sei lá, quase isso

-isso



***


escrevo para medrar

a merda da consolação

e à medida que

garfo a força

falar é ação

um não-poeta triste

em falação



***


acordo com a dor

ela vem eu vou

eu voo ela vaia



***


nada é

diante

então de onde vêm?



***


formulo o pensamento

digo o que quero

o que você quer não

diálogo pássaro de quero-não quero

com a manhã



***


só pode escrever

quem sabe

vigiar o jaboti

no quintal

tinha uma tartaruga

ia bem vagar

fugiu



***


nosso de cor

esqueci



***


o mundo não sabe

que está num texto meu



***


meu boi morreu

o que será de mim

manda buscar outro

lá com nina simone



***


Nunca serei aquele


Nunca serei

eu queria dizer


nunca serei aquele alguém a quem não pode se

acusar de falta de excesso


nunca serei alguém que não pode

ser acusado da falta de


um poema que abole o eu

lírico mãe comunista e pai socialista


nunca serei a suspensão da pele

que herdei dos meus avós

a palavra que como

flecha sai da minha boca

e a mim fere


nunca serei a decisão de vagar a universidade

ao som de Liszt


cair na estrada ao som de

nunca serei


nunca serei

o reflexo da respiração de Charlie Parker


uma prosódia espontânea


nunca serei não jâmbico

de pontuação irregular


nunca serei

queria ser blueseiro

poemas

com partituras


nunca serei diversidades

e temas


nunca serei gestos belos

eu queria dizer


nunca serei o esquizofrênico

aquém se empresta um livro de


nunca serei aquele

da ambivalência política


não é documento

uma trajetória que termina em lugar algum

cultos jagabundos

nunca serei

era tradicionalistas


cuja chave das contradições

está na língua familiar


deixa ver se eu acho um tacho


encantado por vagabundos

nunca serei a paráfrase de Rimbaud

uma reescritura de Joyce


nunca serei aquele

pânico pelo sucesso


nunca serei aquele que

através da literatura

encontra a maravilha do erótico


nunca melhor lido adiante serei


***


Fernando Salomon Bezerra

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