O Sr. MEU NOME É LEGIÃO, PORRA lê o jornal!
A primeira página diz
1100000 mortos
A guerra é longa
A morte não se cansa!
Bem ao lado da notícia
A foto dele: o assassino
andando de lancha
O olhar do Sr. MEU NOME É LEGIÃO, PORRA!
se move indiferente
pela hecatombe de seu povo
e conta com deleite
uma piada
Quando eu era moleque
lá no interior
era tão magro
que me chamavam
de parmito
Parmito....
A matéria do jornal
Traz o nome de todos
Os mortos sobre um fundo negro
Inútil tentar achar algum conhecido
nesta galáxia
que ao longe imita
as cinzas de uma floresta incendiada
O Sr. MEU NOME É LEGIÃO, PORRA!
Não possui compaixão ou imaginação
Nada vê nas páginas
além de um borrão
Por um segundo
um pensamento assustador
atravessa o rosto do Sr. Legião
um puxa-saco encontra
entre os mortos
seu homônimo
e grita ‘ Ainda bem que não é o Senhor, hein Patrão’
e com o rosto branco e
um sorriso amarelo de medo
o Sr. Legião apenas
repete assombrado pela razão
‘Ainda não’
e ele percebe que
aquelas páginas
contêm seu fim
semelhante ao daquele número
superior a um milhão
Dao De Jing
A partir de uma conversa com Chiu Yi Chi
O Dao é desnomeador
e o desnomeador é constante.
o nome que não pode ser dito
é a coisa
e a coisa que equivale ao Dao
é um gesto da luz .
Ao separarmos existência
e vazio
não estamos mais
grávidos do Céu e da Terra
Ao desejarmos o vazio
ainda que fora dele
nos tornamos cintilações
Ao desejarmos a existência
sem nenhum atributo
senão o acontecer
autônomo das coisas
nos tornamos
vestígios
os nomes todos
são sombras e luzes
nós fora de nossos nomes
sem origem discernível,
podemos ser
festejados pela coisa em si que ri
destes sons e sonos
como uma porta
aberta pelo vento
para um jardim
em frente a uma floresta
revela o que somos
HAKIM BEY NA OCUPAÇÃO 9 DE JULHO
“O Estado mundial será o corpo”
Novalis
I
Diadema é um dos nomes do monádico
que como o Pássaro da Eternidade
é buscado por aqueles que buscam
aquilo que jamais pode ser encontrado
porque aparece em nossos sonhos
a alma que é a paisagem invisível
apenas porque ainda não olhamos para ela
O paraíso florescendo nos olhos
daquelas que podem ouvir
aquilo que veem
O paraíso está nos olhos
daquele que os fecha para poder ver
Pergunte ao si mesmo que se opõe ao eu
porque o amadoamada sem nome
criou-se em árvores e também em cosmo
Chega-se até a favela de Eldorado pela elevação movente
através da fusão do um Quilombo com uma Tekoa
fusão opaciada pela dimensão dos negócios
onde a alma é convencida da inexistência do humano
depois ela será reconduzida até o começo do antisono, quando o dinheiro e a água forem bens públicos
reinvindicaremos isto, em outraoutrooutre
através da universidade desconhecida dos sonhos lúcidos
onde o corpo se vê retrovado
porque não existe ali
a necessidade nem da falsa imanência dos celulares
nem da medusa oblíqua dos espelhos
o rosto do outraoutrooutre
onde mergulhamos antes de nascermos
A gênese do lugar:
uma topologia fantasma
chamada Canudos
que se move
por dentro
do ônibus
lotado
que também é um massacre
embora incapaz de roubar
nossas potências nômades
nossa poderosa fragilidade
sempre lutando
contra os buracos brancos,
vencendo apenas
quando somos os observadores
na fenda etimológica
e anulamos a magia cinza econômico-jurídica da branquitude
porque a palavra PODER não pode nos prender;
eram apenas emanações do simulacro de um pesadelo
cercadas pela ocupação
a sede dourada
a fome amarela
Sabemos ao sentir tudo
no Aberto
que a língua da brisa
na copa das árvores
é mais real
do que a angústia
anunciando a magia dos órgãos sem eu
chamando a terceira pessoa do singular
até que venha o silêncio que é a força
Cosmogramática
Atravessando os corpos
através dele anularemos O PODER
com sua representatividade nula do irreal
o ex mundo será estilhaçado
por um tipo de polinização
de silêncios autopoéticos
que deslocam a percepção dos sonhos
para todos os outros estados
dos encontros
para todos os contornos e esboços
da presença do mundo
longe do encanto etimológico
que é como uma porta feita
com chaves coladas umas nas outras
com gelo e névoa
agora o ex mundo existe para ser dissipada pelo movimento
livre, despensado e solar do corpo
Todos os seus movimentos são celestes
do vento na teia de aranha
aos alvéolos
dos anéis de Saturno
até a imobilidade plástica
do sono
onde o sonho se move como o anjo da história
na não intencionalidade
espaço adentro.
II
Podemos sentir
que a vontade da matéria
está atrás do pensamento de todas as coisas
que estão umas dentro das outras
como a água na água-viva
e o som nas explosões solares
ecoando nas batidas do coração do Colibri
e nas do nosso
Sabemos que asas foram enterradas
no corpo das mulheres
há algo de sublime nos fios
entrelaçados que formam a matéria
na vontade dos fios
na vontade das asas
na autonomia
bioestelar
que empurra o sangue
para o Sol no alto da cabeça
dos animais
que empurra a seiva
para o alto da cabeça vegetal
o cérebro polifônico da copa das árvores
coreocosmogramatológico
como o cérebro das nuvens
e o dos rios
mas não apenas o cérebro : O CORPO
que os antigos chamavam de NÃO MENTE
O CORPO NÃO MENTE
A natureza, sem esquemas
As supernovas, sem esquemas
Ou seja EROS
Pólenomádico
e sua maravilhosa buceta
que um dia foi
A TERRA
Se
Se Todo ser é pluri- ou multi-modal, ou seja, existe de diversos modos: corpo, alma, fenômeno, coisa, etc.
Então não somos
E aquela fala do Coronel Kurtz/Marlon Brando em Apocalipse Now?
Era o Sweet Bird of paradox anunciando
sua própria tempestade interior
como o autodeclarado nazismo
de Ingmar Bergman e Heidegger
na juventude
o ser é costurado
por atos falhos e contradições
que não revelam nada.
Como ser o negro ou a matéria escura II
Adendo
O sinthoma
Para Ronald Augusto & Baco Exu do Blues
Um triunfo que existe
ATRAVÉS DE SEU CONTRÁRIO
Cada preto-preta é um quilombo que se move
no terrano sem Terra
uma classe muda de calçada
e chama a polícia
para o catador
que não fez nada
culpado até que se prove
a certeza de um mundo contrário
ao mundo
Foram os três
em flagrante
o Olhar de Machado, as mãos de Lima
pregadas na Cruz com Carolina
um cemitério clandestino
plantado no mar
entre Brasil
e a África
na esquina
vai continuar
no apagamento do Canindé
e Eldorado dos Carajás
nós somos suas sementes
cravadas no corpo desse negro-negra sem dentes
caído na calçada
dormindo embaixo de um cobertor sujo
imantado-imantada pelo
fluxo da crackolândia
onde se o branco vai
pretifica
ali e no Jazz
O Azul que vemos
em falso no céu
que em verdade vos digo
É UM CORPO
NEGRO
ESTELAR DO ESPAÇO
A Quizumba
infinita
e serve para acordar
Aí
o preto deitado na calçada se levanta
MULTICOSMIPLICADO
e quebra a corrente com o laço colonial
pelo nirvana
CONTEMPORÂNEO ANCESTRAL
CONVERGÊNCIAS
DE INSURGÊNCIAS
Essa é a fita
E ao se afastar
por dentro
da miragem projetada
na BIOS (DES) controlada
chamada identidade
um ponto estelar
se abre
e uma floresta renasce
nas raízes
da invisibilidade
Marcelo Ariel
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