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Um poema serial de Ronald Augusto

O arco dos vinte anos: excertos


1

espelho verde não se sabe

de onde parte a vontade do vento

confins com os quais o vento confina


2

um paraíso entre uma ramagem e outra

e uma outra e

imagens que não se imaginam

por isso um paraíso


3

marcolini amigo este cálix (quieto)

este cálix é um breve estribrilho

um confim um paraíso uma música

uma náusea


4

a brisa em pleno brilho

vai-se sempiterno para o claro

exceto que uma claridade

sem margens abeira-nos

da escuridão mais aguçada


5

copo onde a pedra da luz faísca

pão solar gomo aberto

vinácea e divina ipásia


6

quando as palavras se tornam escuras

não é porque há algo de inefável nos objetos

a que elas se referem

há duas razões para que isso ocorra


uma

quando cremos que as palavras são realmente os objetos

que designam


e outra

quando nos convencemos de que

as palavras são melhores do que os objetos




[primeira redação:1985; duas ou três alterações: 2020]




Ronald Augusto

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